Letras e Fonemas nas Provas: Entenda a Diferença

As letras são as representações gráficas — ou “desenhos” — dos sons da fala, conhecidos como fonemas.

Enquanto os fonemas correspondem aos sons que ouvimos, as letras são as formas visuais utilizadas para registrar esses sons por escrito. 

Desse modo, compreender essa relação é fundamental tanto para o domínio da língua quanto para o bom desempenho em provas de concursos públicos, que frequentemente exploram esse tema em questões objetivas.

1. Contexto Histórico

Inicialmente, a linguagem humana surgiu de forma oral e gestual. Nossos ancestrais utilizavam gestos e sons para se comunicar, atendendo às necessidades básicas de convivência e sobrevivência.

Com o passar do tempo, essa comunicação tornou-se mais complexa, dando origem a sistemas orais organizados — as primeiras formas de fala humana (CRYSTAL, 2010).

Diante disso, a necessidade de registrar informações para as gerações futuras levou ao surgimento da escrita.

Segundo historiadores da linguagem, os sumérios, por volta de 3100 a.C., foram os pioneiros ao criar um sistema de escrita conhecido como cuneiforme, no qual sons da fala passaram a ser representados por símbolos gráficos (LYONS, 1981). 

Esses símbolos podem ser considerados os antecessores das letras atuais.

Assim, com o tempo, os sistemas de escrita foram se aperfeiçoando até darem origem aos alfabetos, conjuntos de letras organizados para representar os sons de uma língua de forma sistemática.

2. A Importância das Letras na Representação dos Sons

Os sons — ou fonemas — são entidades abstratas: não podem ser vistos nem tocados, apenas ouvidos. Se a humanidade dependesse exclusivamente da oralidade, muito conhecimento se perderia ao longo do tempo. 

As letras surgiram justamente para registrar e padronizar esses sons, possibilitando a transmissão precisa de ideias, histórias e informações ao longo das gerações (CAGLIARI, 2009). Por exemplo:

Considere a palavra “CASA”. Quando pronunciamos essa palavra, produzimos quatro fonemas: /k/, /a/, /z/ e /a/. Para representá-los graficamente, usamos quatro letras:

  • C → /k/
  • A → /a/
  • S → /z/
  • A → /a/

Portanto, a palavra “CASA” apresenta quatro letras e quatro fonemas correspondentes. Esse tipo de relação direta é comum em muitos casos, mas nem sempre o número de letras coincide com o número de fonemas, e é justamente aí que as bancas examinadoras concentram suas pegadinhas.

3. Diferença Entre Letras e Fonemas nas Provas

A definição clássica afirma que letra é a representação gráfica do fonema, ou seja, “a letra é o desenho do som” (CUNHA; CINTRA, 2008).

Entretanto, existem situações em que o número de letras é diferente do número de fonemas, como ocorre nos dígrafos (duas letras representando um único som, como “ch” em “chave”) e nos dífonos (uma letra representando dois sons, como “x” em “exame”).

Assim, uma boa forma de compreender essa diferença é pensar que os fonemas são como sons musicais e as letras são as notas escritas na partitura.

Desse modo, a música (fala) existe primeiro como som; depois, alguém a registra para que outros possam reproduzi-la fielmente. 

Assim como uma única nota escrita pode representar um som longo ou uma combinação de notas pode produzir um único acorde, nem sempre a quantidade de letras corresponde exatamente à quantidade de sons.

Essa metáfora ajuda a visualizar que a escrita é um sistema de representação, não uma cópia perfeita da fala.

Por isso, as bancas de concursos exploram justamente esses casos em que a relação letra ↔ fonema não é direta, exigindo do candidato atenção aos detalhes gráficos e fonéticos presentes nas palavras.

4. Como esse conteúdo é cobrado em provas de concursos públicos?

De maneira geral, as bancas costumam cobrar o tema letras e fonemas de duas formas principais.

A primeira é a mais direta: o candidato precisa analisar se o número de letras é equivalente ao número de fonemas em determinada palavra. 

Nesse tipo de questão, a tarefa é observar atentamente cada letra e o som que ela representa, verificando se existe correspondência entre ambos. 

Parece simples, mas esse tipo de questão exige cuidado, pois qualquer letra que não represente som — ou que represente mais de um — pode alterar o resultado.

A segunda forma de cobrança é mais específica. Nesse caso, a banca busca avaliar se o candidato reconhece as exceções — isto é, as situações em que o número de letras não coincide com o número de fonemas. 

E é justamente aí que entram alguns conceitos muito importantes, como os dígrafos, os dífonos e as letras diacríticas.

Não se preocupe se esses nomes soam complicados agora. Em breve, explicaremos cada um deles detalhadamente. 

Por enquanto, o mais importante é entender que, sempre que aparecer um dígrafo, um dífono ou uma letra diacrítica, o número de letras e de fonemas será diferente.

Para que você veja na prática como isso aparece nas provas, observe as questões abaixo:

Exemplo 1: Questão direta sobre fonemas

CESPE / CEBRASPE – 2025 – InoversaSul – Professor de Língua Portuguesa – Anos Finais

No que se refere à pontuação e ortografia no texto 19A1, bem como a aspectos fonológicos de vocábulos nele empregados, julgue o item que se segue.

 O vocábulo “histórico” tem nove letras e oito fonemas.

 ( ) Certo  ( ) Errado

Gabarito: Certo.

Veja que a banca foi direta e objetiva: o candidato precisava identificar a quantidade de fonemas. A palavra “histórico” possui nove letras, mas apenas oito fonemas, pois a letra “h” é diacrítica — isto é, não representa som algum. Na prática, é como se pronunciássemos “istórico”.

Perceba como a CEBRASPE, uma das bancas mais tradicionais e exigentes do país, cobrou um conteúdo aparentemente simples, mas que exige atenção e conhecimento fonológico. Uma letra muda pode ser o detalhe que define a resposta correta.

Exemplo 2: Questão envolvendo dífonos

CESPE / CEBRASPE – 2025 – InoversaSul – Professor de Língua Portuguesa – Anos Iniciais

No que se refere à pontuação e ortografia no texto 19A1, bem como a aspectos fonológicos de vocábulos nele empregados, julgue o item que se segue.

Identificam-se no vocábulo “lexicais” oito letras e oito fonemas.

( ) Certo  ( ) Errado

Gabarito: Errado.

Nesse caso, a banca cobrou o conceito de dífono, ou seja, uma única letra que representa dois sons.

É o que acontece com a letra “x” em “lexicais”, que possui som de /k/ + /s/, formando dois fonemas distintos. Assim, embora a palavra tenha oito letras, ela apresenta nove fonemas.

Note como o comando da questão é curto, mas a resposta depende de um conhecimento conceitual sólido.

Para acertar, o candidato precisa saber identificar quando uma letra representa um som duplo e quando não há som algum — algo que só é possível com estudo atento dos casos especiais da língua.

Dica Final

  • Quando o número de letras e fonemas coincide, estamos diante de uma correspondência direta.
  • Quando não coincide, há algo especial acontecendo — geralmente um dígrafo, um dífono ou uma letra diacrítica.

Essas diferenças são pequenas no papel, mas grandes na prova. São justamente os detalhes fonológicos que as bancas usam para avaliar quem realmente compreende o funcionamento da língua.

Portanto, ao estudar fonemas e letras, treine o olhar para identificar esses casos especiais. Esse tipo de atenção é o que separa quem entende o conteúdo de quem apenas decora regras.

Agora que já fizemos esse pequeno aprofundamneto, é hora de estudarmos essas exceções: letras diacríticas, dífonos e os dígrafos.

4.1 Letras diacríticas: Por que são relevantes para concursos públicos

O termo “diacrítico” vem do grego diakritikós, que significa “o que distingue, o que separa”.

Na gramática e na ortografia da língua portuguesa, um sinal diacrítico é qualquer marca gráfica usada para alterar o valor fonético ou fonológico de uma letra — por exemplo, os acentos gráficos (´, `, ^, ~) e o cedilha (ç).

Mas o que nos interessa aqui é a letra diacrítica, um conceito muito cobrado em provas de Língua Portuguesa em concursos públicos.

O que é uma letra diacrítica?

Chamamos de letra diacrítica aquela que:

  • não representa um som (fonema) na palavra, ou seja, é uma letra muda;
  • ou modifica o som de outra letra, funcionando como auxiliar fonética.

Em outras palavras, ela não possui um fonema próprio, mas ajuda a formar o som de outro conjunto de letras.

Podemos resumir assim:

Letra diacrítica = letra que não representa som independente, mas altera ou complementa o som de outra letra.

Por que estudar a letra diacrítica é importante para concursos?

Em muitas provas, as bancas pedem ao candidato que conte o número de letras e de fonemas em uma palavra. 

Quando esses números não coincidem, quase sempre é por causa da presença de:

  • uma letra diacrítica,
  • um dígrafo, ou
  • um dífono (que estudaremos nos próximos tópicos).

Se o candidato não souber identificar uma letra diacrítica, corre o risco de errar questões simples — acreditando que toda letra representa um som, o que nem sempre é verdade.

Como Contar Letras e Fonemas: Exemplos práticos

1. “Histórico”

  • Letras: 9 (H – I – S – T – Ó – R – I – C – O)
  • Fonemas: 8 (/i/, /s/, /t/, /ó/, /r/, /i/, /k/, /o/)

Aqui, nesse exemplo, a letra H não possui som, logo, é uma letra diacrítica (ou letra muda). Assim, a alternativa correta seria: 9 letras e 8 fonemas.

2. “Chave”

  • Letras: 5 (C – H – A – V – E)
  • Fonemas: 4 (/ʃ/, /a/, /v/, /e/)

Aqui, a letra H também não representa um som, mas ela modifica o valor do “C”, fazendo com que o conjunto “CH” tenha som de /x/. Portanto, o “H” é letra diacrítica dentro do dígrafo CH.

3. “Guia”

  • Letras: 4 (G – U – I – A)
  • Fonemas: 3 (/g/, /i/, /a/)

Aqui, no exemplo em questão, o U é mudo, ou seja, não é pronunciado. Logo, ele é também uma letra diacrítica.

Contudo, cuidado com a letra “u”, pois quando ele é pronunciado, ele não é uma letra diacrítica. Observe a palavra “água”, por exemplo:

  • Letras: 4 (Á – G – U – A)
  • Fonemas: 4 (/a/, /g/, /u/, /a/)

Aqui, o U é pronunciado, portanto não é diacrítico.

5. “Carro”

  • Letras: 5 (C – A – R – R – O)
  • Fonemas: 4 (/k/, /a/, /ʁ/, /o/)

Nesse caso, o segundo R existe para reforçar o som da consoante, tornando-o mais forte. Ele não cria novo som, apenas modifica o primeiro R. Assim, o segundo R é letra diacrítica.

Como identificar letras diacríticas: Dicas práticas

  1. Leia a palavra em voz alta.
    Se alguma letra não é pronunciada, ela provavelmente é diacrítica.
  2. Observe combinações de letras.
    Em dígrafos como CH, LH e NH, o H é sempre diacrítico, pois serve apenas para alterar o som da letra anterior.
  3. Compare número de letras e fonemas.
    Se houver diferença, verifique se existe letra muda ou modificadora.
  4. Treine com palavras comuns em provas.
    Exemplos que costumam aparecer:
    • “honesto” (H diacrítico),
    • “chave” (H diacrítico em dígrafo),
    • “guitarra” (U e segundo R diacríticos).

Em resumo, saber identificar letras diacríticas é um diferencial nas provas de Língua Portuguesa

Questões que parecem simples (“quantas letras e quantos fonemas há na palavra?”) exigem esse domínio.

Portanto, memorize:

Nem toda letra representa um som.
Quando uma letra apenas modifica ou acompanha outra sem produzir som próprio, temos uma letra diacrítica.

4.2 Dífonos: o que é e como identificar?

O termo “dífono” vem do grego di- (dois) + phonos (som), e significa literalmente “dois sons”.

Na fonologia da língua portuguesa, o dífono ocorre quando uma única letra representa dois fonemas — ou seja, um único grafema equivale a dois sons distintos na fala.

O que é um dífono?

Chamamos de dífono o caso em que a letra X representa o som duplo /KS/ (ou, em alguns contextos, /KZ/).

Isso significa que, mesmo havendo apenas uma letra escrita, há dois fonemas pronunciados.

Em resumo:

Dífono = uma letra representando dois fonemas.

Esse é o oposto dos dígrafos, que veremos a seguir — nos quais duas letras representam um único som.

Por que estudar o dífono é importante para concursos públicos?

Nas provas de Língua Portuguesa, as bancas costumam cobrar a contagem de letras e fonemas conforme já estudamos.

Quando a quantidade de fonemas for maior do que a de letras, muito provavelmente há um dífono envolvido.

Saber identificar o dífono é essencial para não errar questões que envolvem análise fonológica.

Dífonos: Exemplos práticos

1. “Tóxico”

  • Letras: 6 (T – Ó – X – I – C – O)
  • Fonemas: 7 (/t/, /ó/, /k/, /s/, /i/, /k/, /o/)

Aqui, a letra X representa dois sons: /k/ + /s/. Portanto, há um dífono na palavra.

2. “Complexo”

  • Letras: 8 (C – O – M – P – L – E – X – O)
  • Fonemas: 9 (/k/, /õ/, /m/, /p/, /l/, /é/, /k/, /s/, /o/)

Mais uma vez, o X é dífono, pois equivale aos sons /k/ e /s/.

3. “Tórax”

  • Letras: 5 (T – Ó – R – A – X)
  • Fonemas: 6 (/t/, /ó/, /r/, /a/, /k/, /s/)

O mesmo padrão: uma única letra (“X”) representando dois fonemas.

Observação importante

Embora a letra X possa assumir diversos valores fonéticos na língua portuguesa — como o som de /ʃ/ em xícara ou /z/ em exemplo —, ela será considerada dífono apenas quando representar dois sons distintos, geralmente /ks/ ou /kz/.

Assim, é importante lembrar:

Nem todo “X” é dífono, mas todo dífono é formado pela letra “X”.

Atenção às variações de pronúncia! Existem palavras em que o X pode ser pronunciado de mais de uma forma, dependendo do uso ou da região.

Um bom exemplo é “hexágono”:

  • Se pronunciarmos o X com som de /z/ (ezágono), teremos 8 letras e 7 fonemas.
  • Se pronunciarmos o X com som de /ks/ (eksságono), teremos 8 letras e 8 fonemas.

Em ambos os casos, o H inicial não representa som — é letra diacrítica —, mas a diferença está na realização fonética do X.

Essa variação mostra como é fundamental compreender o valor sonoro das letras para acertar questões de fonologia em concursos públicos.

Dicas práticas para identificar um dífono

  1. Pronuncie a palavra devagar.
    Se você perceber dois sons consecutivos ao chegar no “X” (como em tóksico), há um dífono.
  2. Observe o contexto.
    Geralmente o dífono aparece após ditongos ou sílabas tônicas terminadas em vogal, como em “complexo”, “fixo”, “anexo”, “tóxico”, “sexo”, etc.
  3. Atenção às pegadinhas.
    Em palavras como “exame” ou “exílio”, o X tem som de /z/, não é dífono.

Exemplo de questão de concurso

(Exemplo adaptado – CESPE/CEBRASPE)

Na palavra complexo, o número de fonemas é igual ao número de letras.

( ) Certo  (✔) Errado

Note que a palavra complexo tem 8 letras e 9 fonemas, pois o “X” representa dois sons (/k/ + /s/). Logo, a alternativa correta é Errado.

Referente ao dígrafo, não se preocupe, pois vamos publicar, assim que possível, um artigo exclusivo para eles.

Fontes de apoio

  • CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.
  • BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.
  • ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 2017.

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